sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

 Zenão de Eléia





Reconhecido por Aristóteles como criador da dialética, Zenão de Eléia enunciou paradoxos que foram decisivos para a evolução do pensamento lógico, base de todo o conhecimento científico.

Zenão nasceu por volta de 495 a.C. na colônia de Eléia, na Magna Grécia (sul da Itália). Pertenceu à escola eleática fundada por Parmênides, de quem foi amigo e discípulo. A grande tarefa que se propôs foi a de demonstrar as teorias do mestre, opondo aos que a combatiam argumentos estritamente lógicos e formais. Parmênides distinguia o conhecimento racional do conhecimento sensível: por ser o sensível mutável e contraditório, o ser e a verdade são dados do pensamento, cujo objeto é o ser idêntico a si mesmo.

A dialética de Zenão consistia em admitir as proposições dos adversários para demonstrar, por redução ao absurdo, a contradição implícita nas conseqüências do que fora afirmado. Seus paradoxos procuraram demonstrar a inconsistência da idéia de multiplicidade das coisas no tempo e no espaço, em defesa da tese de Parmênides, segundo a qual o ser é uno e indivisível. Como o mestre, afirmou a identidade entre ser e pensamento: só existe o que é suscetível de ser pensado. Daí a célebre tese sobre a inexistência do movimento: como não é inteligível, o movimento não existe, ou seja, é uma ilusão dos sentidos. As idéias de Zenão encontraram eco na filosofia platônica. Zenão de Eléia morreu por volta de 430 a.C.

 Tales de Mileto



Nenhum escrito de Tales sobrevive, nem há fontes contemporâneas a seu respeito. As realizações que lhe são atribuídas baseiam-se em referências tardias ou em lendas mantidas pela tradição. Segundo Heródoto, Tales foi um estadista de visão que advogou a federação das cidades jônicas da região do Egeu. Segundo Aristóteles, foi ele o primeiro a afirmar que a água era a substância fundamental do universo e de toda a matéria. *Considerado o primeiro filósofo grego, Tales nasceu por volta de 625 a.C. em Mileto, onde teria, como um dos sete sábios, fundado a escola que conserva o nome de sua cidade natal. Já se pretendeu ver, na escola de Mileto, quer dizer, em Tales, Anaximandro e Anaxímenes, a expressão mais autêntica do espírito jônico, ao qual se oporiam os eleatas, representantes do espírito dórico. A nova concepção de mundo dos milésios denominou-se logos, palavra grega que significa razão, palavra ou discurso. As características do logos, que o contrapõem ao pensamento mítico, são as imanências (oposta à transcendência), o naturalismo e o abandono do antropomorfismo. Esboçou-se assim a primeira tentativa de explicar racionalmente o universo, sem recorrer a entidades sobrenaturais. *Os filósofos da escola de Mileto eram homens de saber prático, acostumados a viajar, dedicado à política e ao trabalho intelectual. A partir de fatos particulares, conceituaram a realidade como um todo organizado e animado. Diante da multiplicidade e da mutabilidade das aparências, buscavam um princípio unificador imutável, ao qual chamaram arké -- origem, substrato e causa de todas as coisas. Em geometria, atribui-se a Tales a invenção de cinco teoremas. Diz-se também que ele usou seus conhecimentos geométricos para medir as pirâmides egípcias e para calcular a distância entre navios no mar e a costa. Referências como essas, ainda que às vezes possam não corresponder à verdade, ilustram, todavia a reputação que o cercava. *Tales teria sido um precursor do pensamento científico ao substituir a explicação mítica da origem do universo pela explicação física de sua cosmologia baseada na água. Para ele, a água era o princípio formador da matéria porque o que é quente preciso da umidade para viver, o morto se resseca, todos os germes são úmidos e os alimentos estão cheios de seiva. É natural que as coisas se nutram daquilo de que provêm. A água é o princípio da natureza úmida, que entretém todas as coisas, e a terra repousa sobre a água. *As combinações se fazem pela mistura e pela mudança dos elementos, e o mundo é um só. A esfera do céu está dividida em cinco círculos, ou zonas: ártica, trópico de verão, equador, trópico de inverno e antártica. Primeiro astrônomo a explicar o eclipse do Sol, ao verificar que a Lua é iluminada por esse astro, Tales de Mileto, segundo o historiador grego Diógenes Laércio, morreu com 78 anos durante a 58ª Olimpíada (548-545 a.C.) *Anaximandro de Mileto; Anaxímenes de Mileto.

 Pitágoras


Deve-se ao filósofo e matemático grego Pitágoras a criação da chamada irmandade pitagórica, de natureza essencialmente religiosa, cujos princípios teóricos influenciaram o pensamento de Platão e Aristóteles. Sua reflexão também foi determinante para a evolução geral da matemática e da filosofia ocidental.

Pitágoras nasceu na ilha de Samos, na Anatólia, por volta de 580 a.C. Deixou a terra natal por aversão à tirania de Polícrates, senhor de Samos. Interessado em ciência e filosofia, viajou, ao que parece, pelo Egito, Fenícia, Babilônia, Índia e Pérsia, e visitou santuários gregos. Por volta do ano 530 a.C. emigrou para Crotona, colônia grega do sul da península itálica. Fundou uma comunidade ao mesmo tempo religiosa e filosófica, de tendências aristocráticas, que visava à reforma social e política da região. A confraria parece ter tido atuação decisiva na derrota que Crotona impôs a Sibaris em 510 a.C. Com o triunfo das idéias democráticas, porém, Pitágoras e seus partidários passaram a ser perseguidos.

A influência deixada por Pitágoras foi uma das maiores que registra a história do pensamento antigo, embora ele mesmo não tenha deixado nenhuma obra escrita. Sua doutrina tornou-se conhecida por intermédio de seus discípulos.

Ligada a uma forma peculiar de misticismo estava a matemática que, como argumentação dedutivo-demonstrativa, começou com Pitágoras. Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números e chegaram a fundar uma mística numérica. O filósofo teve a originalidade de propor algo imaterial -- o número -- como princípio de explicação das coisas e do mundo. Para a linguagem pitagórica, "número" é sinônimo de harmonia, pois, apesar de sua homogeneidade e invariabilidade, pode expressar as relações que se encontram em permanente processo de mutação. Se o número -- considerado como essência das coisas - é constituído da soma de pares e ímpares, as coisas também encerram noções opostas, como as de limitado e ilimitado, donde serem vistas como conciliação de opostos, ou seja, como harmonia. Os pitagóricos, porém, valorizavam mais o limitado que o ilimitado e associavam ao primeiro desses conceitos os números pares e ao segundo, os números ímpares.

A irmandade pitagórica foi desfeita por uma conspiração que pôs fim a sua hegemonia em grande parte do sul da Itália, a Magna Grécia. Alguns discípulos emigraram e o próprio Pitágoras foi desterrado para Metaponto, onde morreu por volta do ano 500 a.C.

 Empédocles




Visto na antiguidade como profeta e mago, Empédocles também foi político, orador e poeta. Diz a lenda que encerrou sua brilhante carreira atirando-se na cratera do vulcão Etna, para dar aos seguidores uma demonstração convincente de divindade.

Empédocles nasceu em Agrigento, Sicília, então parte da Magna Grécia, por volta de 490 a.C. Continuador da tradição dos jônicos, desenvolveu uma interpretação do universo em que todos os fenômenos da natureza eram entendidos como resultado da mistura de quatro elementos: água, fogo, ar e terra. Esses princípios, também chamados "raízes", seriam eternamente subsistentes, jamais engendrados, e de sua união ou separação nasceriam e pereceriam todas as coisas. Os quatro elementos se uniriam sob a força do amor e se separariam sob o influxo do ódio. Os mananciais e os vulcões seriam provas da existência de água e fogo no interior da Terra.

Segundo Empédocles, no poema Katharmoi (As purificações), do qual resta somente uma centena de versos, a intervenção do ódio está na origem de todas as coisas e dos seres. Individuais, que se vão diversificando até a separação total e o domínio absoluto do mal. Entretanto, o princípio do amor voltará a triunfar, unificando e misturando tudo até a configuração de uma só coisa, Sphairos, a esfera perfeita, na qual o mundo presente tem princípio e fim. No mundo atual há seres individuais e, portanto, ódio e injustiça, o que exige um processo de purificação que só terminará quando o amor triunfar. Mas esse triunfo é ainda relativo: a evolução dos mundos é um processo no qual se manifesta um domínio alternado do amor e do ódio, do bem e do mal. Apesar da lenda, supõe-se que a morte de Empédocles tenha ocorrido no Peloponeso, Grécia, por volta de 430 a.C.

 Categoria


A realidade apresenta uma multidão de seres, que o homem busca apreender e nomear com base em suas características. Como estas são praticamente inumeráveis, as quais ele trata de agrupá-las em categorias, de acordo com as analogias e diferenças que guardam entre si.

Categoria é a classe de atributos que dizem respeito a um sujeito determinado. As categorias são, portanto gêneros, pelos quais se distribuem todos os seres ou realidades do mundo criado. Observadas de outro ângulo, as categorias são os diferentes pontos de vista a partir dos quais os seres se oferecem à investigação, e assim determinam os caminhos por meio dos quais é possível conhecê-los. As categorias significam, portanto, as diferentes maneiras de expressão do ser, ou as diferentes maneiras de ser. O termo foi usado por Aristóteles para denotar um tipo de predicado: o que se afirma sobre um sujeito pode ser reunido em classes, que ele chamou de categorias. Julgando o conhecimento uma reprodução dos objetos, Aristóteles crê que os conceitos fundamentais do conhecimento - as categorias - representam as qualidades objetivas do ser, em sua forma e natureza próprias.

Para Aristóteles, portanto, a categoria é o predicado de uma afirmação, aquilo que alguém pode afirmar de um sujeito. Divide ele as categorias em: (1) substância (homem); (2) quantidade (dois homens); (3) qualidade (magro); (4) relação (maior duplo); (5) lugar (na rua); (6) tempo (ontem); (7) situação ou postura (fechado); (8) condição (armado); (9) ação (fala); (10) passividade (cortado). As categorias colocam-se entre o conhecimento empírico, sensível, e o racional, sendo conhecidas por meio de uma espécie de "percepção" intelectual, intermediária entre os dois. Em suma, a classificação das categorias aristotélicas revela-se mediante uma análise da linguagem e uma análise da percepção. A Idade Média tratou como definitivas as dez categorias de Aristóteles. Em comentário às Categoriae, Porfírio, discípulo de Plotino, lançou as bases da controvérsia medieval sobre os universais, ou termos abstratos gerais, colocando o que toda teoria das categorias deve resolver.

No século XVIII, Kant retomou o termo categoria para designar os diferentes tipos de juízo ou maneira como as proposições lógicas funcionam. *Hegel considera as categorias como "determinações do pensamento", e também da realidade. Para ele, a única e verdadeira categoria é o Eu, como essencialidade pura do ente.

Mas a filosofia contemporânea considera mais fecunda conceber o espírito como algo mais dinâmico do que uma estrutura, e por isso mesmo independente das estruturas lingüísticas particulares. O pensamento adota em qualquer parte os mesmos caminhos, seja qual for à língua em que descreva sua experiência.

 Aristóteles




Nasceu em Estagira (donde ser dito "o Estagirita"), Macedônia, em 384 a.C. Em Atenas desde 367, foi durante vinte anos discípulo de Platão. Com a morte do mestre, instalou-se em Asso, na Eólida, e depois em Lesbos, até ser chamado em 343 à corte de Filipe da Macedônia para encarregar-se da educação de seu filho, que passaria à história como Alexandre o Grande. Em 333 voltou a Atenas, onde fundou o Liceu. Durante 13 anos dedicou-se ao ensino e à elaboração da maior parte de suas obras. *As principais obras de Aristóteles, agrupadas por matérias, são: (1) Lógica: Categorias, “Da interpretação”, Primeira e segunda analítica, Tópicos, Refutações dos sofistas; (2) Filosofia da natureza: Física; (3) Psicologia e antropologia: Sobre a alma, além de um conjunto de pequenos tratados físicos; (4) Zoologia: Sobre a história dos animais; (5) Metafísica: Metafísica; (6) Ética: Ética a Nicômaco, Grande ética, Ética a Eudemo; (7) Política: Política, Econômica; (8) Retórica e poética: Retórica, Poética. *Como nenhum filósofo antes dele, Aristóteles compreendeu a necessidade de integrar o pensamento anterior a sua própria pesquisa. Por isso começa procurando resolver o problema do conhecimento do SER a partir das antinomias acumuladas por seus predecessores: unidade e multiplicidade, percepção intelectual e percepção sensível, identidade e mudança, problemas fundamentais, ao mesmo tempo, do ser e do conhecimento. *O mundo animal é analisado com amplitude e considerado por Aristóteles como um espaço intermediário entre a física e a psicologia. Os seres orgânicos apresentam aspectos diversos, mas todos são constituídos de matéria (o corpo) e de forma (o princípio do movimento). Os animais são mais perfeitos do que as plantas e de constituição mais complexa. *A partir daí, o filósofo apóia sua física em duas teorias filosóficas: a da substância e do acidente, e a das quatro causas. *A substância é o que existe por si, o elemento estável das coisas, e o acidente, o que só noutro pode existir, como determinação secundária e cambiante. Graças à união entre os dois princípios, a substância se manifesta através dos acidentes: "o agir segue o ser". Por outro lado, dependem os seres de quatro causas: material, formal, eficiente e final, estando ligada, à primeira, a potencialidade de cada ser; à segunda, a especificidade; à terceira, a existência; e à quarta, a intenção. *Ética e política. No diálogo perdido “Da justiça” já se anunciavam alguns dos temas expostos nos oito fragmentos reunidos por Andronico sob o título de Política. Escritos ao longo de toda a vida de Aristóteles, são tudo o que resta da sua obra sobre o assunto. *Aristóteles foi o primeiro filósofo a distinguir a ética da política, centrada a primeira na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto tal, e a segunda, nas vinculações deste com a comunidade. Dotado de logos, "palavra", isto é, de comunicação, o homem é um animal político, inclinado a fazer parte de uma polis, a "cidade" enquanto sociedade política. A cidade precede assim a família, e até o indivíduo, porque responde a um impulso natural. Dos círculos em que o homem se move a família, a tribo, a polis, só esta última constitui uma sociedade perfeita. Daí serem políticas, de certo modo, todas as relações humanas. A polis é o fim (télos) e a causa final da associação humana. Uma forma especial de amizade, a concórdia, constitui seu alicerce.



Com a morte de Alexandre (323), Aristóteles teve de fugir à perseguição dos democratas atenienses, refugiando-se em Cálcide, na Eubéia, onde morreu em 322 a.C.

 Sócrates


"Só sei que nada sei." Com essas palavras Sócrates reagiu ao pronunciamento do oráculo de Delfos, que o apontara como o mais sábio de todos os homens. O pensador foi o primeiro do grande trio de antigos filósofos gregos, que incluía ainda Platão e Aristóteles, a estabelecer, na Grécia antiga, os fundamentos filosóficos da cultura ocidental.

Sócrates nasceu em Atenas por volta do ano 470 a.C. Era filho de uma parteira, Fenarete, e de Sofronisco, homem bem relacionado nos meios políticos da cidade. Como não deixou obras escritas, tudo o que se sabe de sua vida e de suas idéias é o que relatam principalmente autores como Platão e Xenofonte. Segundo os escritos de Íon de Quios e Aristóxenes, Sócrates teria estudado com Arquelau, discípulo de Anaxágoras, o primeiro filósofo importante de Atenas. Na juventude, participou de várias batalhas da guerra do Peloponeso. Casou-se tardiamente com Xantipa e teve três filhos.

Sócrates era o oposto do ideal clássico de beleza: tinha o nariz achatado, os olhos esbugalhados e a barriga saliente. Sempre cercado de jovens discípulos, gozava de muita popularidade em Atenas, embora seus ensinamentos também lhe valessem grande número de inimigos. Passava a maior parte do tempo ensinando em lugares públicos, como praças, mercados e ginásios, mas ao contrário dos filósofos profissionais -- os sofistas, que combatia com vigor -- não cobrava por suas lições. Evitava intervir diretamente em assuntos políticos. Pelo menos uma vez, no entanto, entre 406 e 405 a.C., integrou o conselho legislativo de Atenas. Em 404 a.C., arriscou a vida por recusar-se a colaborar em manobras políticas arquitetadas pela dinastia dos Trinta Tiranos, que governava a cidade.

Pensamento. Segundo palavras de Cícero, "Sócrates fez a filosofia descer dos céus à terra". Antes, os filósofos buscavam obsessivamente uma explicação para o mundo natural, a physis. Para Sócrates, no entanto, a especulação filosófica devia se voltar para outro assunto, mais urgente: o homem e tudo o que fosse humano, como a ética e a política.

Sócrates dizia que a filosofia não era possível enquanto o indivíduo não se voltasse para si próprio e reconhecesse suas limitações. "Conhece-te a ti mesmo" era seu lema. Para ele, a melhor maneira de abordar um tema era o diálogo: por meio do método indutivo que denominou "maiêutica", numa alusão ao ofício de sua mãe, era possível trazer a verdade à luz. Assim, ele se voltava para os outros -- quer fossem um adolescente como Lísias, um militar como Laques ou sofistas consagrados como Protágoras e Górgias -- e os interrogava a respeito de assuntos que eles julgavam saber. Seu senso de humor confundia os interlocutores, que acabavam confessando sua ignorância, da qual Sócrates extraía sabedoria.

O exemplo clássico da aplicação da maiêutica é o diálogo platônico intitulado Mênon, no qual Sócrates leva um escravo ignorante a descobrir e formular vários teoremas de geometria. A indução, finalmente, consiste na apreensão da essência (do universal que se acha contido no particular), na determinação conceitual e na definição. Não se trata, para Sócrates, de definir a beleza do cavalo, dos objetos inanimados, do escudo, da espada ou da lança, por exemplo, mas a beleza em si mesma, em sua essência ou determinação universal. Segundo Aristóteles, a indução e a definição podem ser atribuídas a Sócrates, cujo pensamento, a rigor, não se confunde com o de Platão. A teoria socrática das essências, no entanto, preparou a teoria platônica das idéias.

Desinteressado da física e preocupado apenas com as coisas morais, a antropologia socrática é a essência capaz de regular a conduta humana e orientá-la no sentido do bem. A virtude supõe o conhecimento racional do bem, razão pela qual se pode ensinar. O que há de comum entre todas as virtudes é a sabedoria, que, segundo Sócrates, é o poder da alma sobre o corpo, a temperança ou o domínio de si mesmo. Possibilitando o domínio do corpo, a temperança permite que a alma realize as atividades que lhe são próprias, chegando à ciência do bem. Para fazer o bem basta, portanto, conhecê-lo. Todos os homens procuram a felicidade, isto é, o bem. Assim, o vício não passa de ignorância, pois ninguém pode fazer o mal voluntariamente.

Sócrates lançou as bases do racionalismo idealista, que seu discípulo Platão desenvolveu mais tarde em sua teoria das idéias. O método e as intenções de Sócrates constituíram o início da reação helênica contra o relativismo defendido pelos sofistas, que tinha levado o pensamento filosófico à ruína. Diante do crescente individualismo e da crise de valores que ameaçavam a democracia ateniense, depois do declínio do culto às divindades gregas, questões sobre a melhor forma de governo e a moral individual tornaram-se prementes. Entretanto, a resposta de Sócrates, que pregava um sistema moral absolutamente alheio às doutrinas religiosas e admitia a aristocracia -- governo dos melhores -- como a forma desejável de administração do estado, fez com que se indispusesse com as autoridades conservadoras, o que lhe custou a vida.

Condenação à morte. No ano 399 a.C., Sócrates foi acusado de corromper a juventude e desdenhar o culto aos deuses tradicionais. Ao que parece, a acusação fora motivada pelo fato de ter sido ele o educador de Alcibíades e Crítias, considerados traidores da democracia. O processo foi montado de modo a forçar o pensador a contrariar suas idéias e a retratar-se. A maioria dos comentadores concorda que ele teria sido poupado se não se mostrasse tão inflexível.

Sócrates manteve diante do tribunal a mesma postura irônica de sempre, o que aumentou a irritação dos juízes. À tradicional pergunta sobre qual pena o réu considerava justa para si próprio, Sócrates respondeu que, tendo prestado tantos serviços à cidade, achava justo receber uma pensão vitalícia do estado. Além disso, declarou que não aceitaria o degredo. Foi o bastante para que o tribunal o condenasse à morte.

A sentença, envenenamento com cicuta, foi executada tempos depois. Na prisão, continuou a receber amigos e discípulos para debater assuntos como a morte e a imortalidade da alma. Rejeitou vários planos de fuga elaborados por Critão e outros amigos. Suas últimas palavras foram para encomendar o sacrifício de um galo a Esculápio, o deus a quem se atribuía a cura da fadiga e dos males da vida.

 Pirro de Élida




Sistematizador do ceticismo, Pirro fundou uma doutrina prática, também conhecida como pirronismo, que se caracteriza por negar ao conhecimento humano a capacidade de encontrar certezas.

Supõe-se que o filósofo grego Pirro tenha nascido por volta do ano 360 a.C. Acompanhou Alexandre o Grande na conquista do Oriente, ocasião em que entrou em contato com os faquires da Índia. Estudou filosofia com Anaxarco de Abdera e, em torno do ano 330, instalou-se como professor na cidade de Élida.

Em sua viagem ao Oriente, Pirro observou que a disciplina dos faquires podia conduzi-los à mais absoluta indiferença em relação às circunstâncias. Disso derivava, conforme entendeu uma felicidade superior, não sujeita ao mundo. Ao meditar sobre os discursos filosóficos de sua época, comprovou que todas as doutrinas eram capazes de encontrar argumentos igualmente convincentes para a razão. Desdobrou sua filosofia em três questões: qual a natureza das coisas, como devemos portar-nos ante elas e o que obtemos com esse comportamento. Convencido de que os sentidos humanos não são capazes de captar por si mesmos a realidade das coisas, concluiu que se deve suspender a expressão de juízos sobre a realidade. Chamou de epoke a suspensão do juízo. Para Pirro, toda intenção de ir além das aparências está condenada ao fracasso pelas deficiências dos sentidos e pela fraqueza da razão.

Os ensinamentos de Pirro exerceram influência sobre a Média e a Nova Academia. Durante o século XVII voltaram à atualidade em razão da reedição dos livros de Sexto Empírico, que codificara as obras doutrinárias da escola cética no século III da era cristã. Pirro de Élida morreu por volta de 272 a.C.

 Pirro de Élida



Sistematizador do ceticismo, Pirro fundou uma doutrina prática, também conhecida como pirronismo, que se caracteriza por negar ao conhecimento humano a capacidade de encontrar certezas.

Supõe-se que o filósofo grego Pirro tenha nascido por volta do ano 360 a.C. Acompanhou Alexandre o Grande na conquista do Oriente, ocasião em que entrou em contato com os faquires da Índia. Estudou filosofia com Anaxarco de Abdera e, em torno do ano 330, instalou-se como professor na cidade de Élida.

Em sua viagem ao Oriente, Pirro observou que a disciplina dos faquires podia conduzi-los à mais absoluta indiferença em relação às circunstâncias. Disso derivava, conforme entendeu uma felicidade superior, não sujeita ao mundo. Ao meditar sobre os discursos filosóficos de sua época, comprovou que todas as doutrinas eram capazes de encontrar argumentos igualmente convincentes para a razão. Desdobrou sua filosofia em três questões: qual a natureza das coisas, como devemos portar-nos ante elas e o que obtemos com esse comportamento. Convencido de que os sentidos humanos não são capazes de captar por si mesmos a realidade das coisas, concluiu que se deve suspender a expressão de juízos sobre a realidade. Chamou de epoke a suspensão do juízo. Para Pirro, toda intenção de ir além das aparências está condenada ao fracasso pelas deficiências dos sentidos e pela fraqueza da razão.

Os ensinamentos de Pirro exerceram influência sobre a Média e a Nova Academia. Durante o século XVII voltaram à atualidade em razão da reedição dos livros de Sexto Empírico, que codificara as obras doutrinárias da escola cética no século III da era cristã. Pirro de Élida morreu por volta de 272 a.C.

 Demócrito






Depois de séculos de esquecimento, a teoria do atomismo, formulada no século V a.C. por Demócrito, recuperou a importância em virtude das interpretações mecanicistas do mundo surgidas no século XVII.

Acredita-se que Demócrito tenha nascido por volta de 460 a.C., em Abdera, na Trácia. Foi discípulo de Leucipo de Mileto, que teria esboçado a teoria atomista. Sua obra, da qual só restam fragmentos, insere-se no contexto dos filósofos pré-socráticos, preocupados, sobretudo com a descoberta do arké ou princípio gerador das coisas.

Para explicar as mudanças da natureza, Heráclito havia afirmado que tudo é movimento, enquanto Parmênides dizia que o ser é uno e imutável e que o movimento é ilusão. Tentando resolver esse dilema, Demócrito considerou que toda a realidade se compunha de dois únicos elementos: o vácuo ou não-ser e os átomos. Afirmava que o arké é “átomo”, palavra grega que designa aquilo que é indivisível. Os átomos, segundo Demócrito, são materiais eternos e sem causa, cujas propriedades são: tamanho, forma, impenetrabilidade e movimento. Essas partículas se movem continuamente no vácuo e, segundo sua forma e tamanho, constituem os diferentes corpos físicos: sólidos, gasosos etc. Todos os fenômenos e mudanças de estado, como a morte, não passam de combinações e separações de átomos.

Demócrito explicava a sensação argumentando que os corpos emitiam imagens muito tênues que impressionavam a alma, também material, por meio dos sentidos. A partir desse conhecimento sensorial o homem se elevaria até o racional. Demócrito, portanto, oferece uma explicação totalmente material e mecanicista do mundo. Portanto, sua ética é antes de tudo prática e se encaminha para o bem comum. O homem deve aspirar à epitimia, ou tranqüilidade de espírito, livre de temores e emoções, e sua busca precisa ser garantida por leis justas de convivência. Demócrito morreu por volta de 370 a.C.

 Anaxímenes de Mileto




Filósofo grego pré-socrático, Anaxímenes de Mileto considerava o aer o princípio constitutivo de todas as coisas e, com sua teoria sobre condensação e rarefação, contribuiu para o avanço do pensamento científico.

Anaxímenes nasceu e viveu em Mileto no século VI a.C. e, com Tales e Anaximandro, formou o trio de pensadores tradicionalmente considerados os primeiros filósofos do mundo ocidental. De seus tratados só subsistiram citações em obras de autores subseqüentes, daí os conflitos na interpretação de suas idéias.

Para ele, o aer (ar) era o elemento primordial, de que todas as coisas resultavam e a que retornava, por um duplo movimento de condensação e rarefação. Os graus de condensação correspondiam às densidades de diversos tipos de matéria. Quando distribuído mais uniformemente, o aer era o ar atmosférico invisível. Pela condensação, tornava-se visível, a princípio como névoa ou nuvem, em seguida como água e depois como matéria sólida - terra e pedras. Se fosse mais rarefeito, transformava-se em fogo.

As aparentes diferenças qualitativas em substância seriam devidas a meras diferenças quantitativas.

Observador sagaz descreveu o brilho fosforescente de um remo ao tocar a água e afirmou que o arco-íris não era uma deusa, mas o efeito dos raios de sol sobre um ar mais denso.



 Sofistas

O movimento intelectual dos sofistas, menosprezado durante séculos com base nas críticas de Platão e Aristóteles, foi reavaliado a partir do século XIX e passou a ser entendido como estágio crucial para a evolução do pensamento grego.

A designação sofista, que significa "mestre da sabedoria", aplica-se a um conjunto de oradores e pensadores surgidos na segunda metade do século V a.C. em diversas partes da Grécia, sobretudo em Atenas. Em comum, tinham o fato de exercerem o ensino de forma profissional e remunerada. Na maioria eram professores itinerantes que encaminhavam os jovens na vida pública e gozavam de grande prestígio social.

A atuação dos sofistas representou drástica renovação da cultura e da educação helênicas. Essa influência, embora em declínio, perdurou até o século IV a.C. Um movimento de escritores gregos, a escola da Segunda Sofística, teve lugar no século II a.C., mas não se caracterizou pela profundidade ou originalidade de pensamento, e sim pela nostalgia.

O aparecimento dos sofistas foi resultado de profunda crise do mundo grego, motivada por circunstâncias internas e externas. Ao se aprofundarem os conhecimentos sobre as civilizações orientais, surgiram novos horizontes e incentivou-se o intercâmbio cultural. Internamente, os regimes aristocráticos desmoronavam por toda a Grécia e cediam lugar à democracia, a qual exigia do cidadão que se manifestasse em praça pública e que estivesse apto a convencer seus pares do ponto de vista que defendesse. Com isso, consolidava-se uma burguesia desejosa de adquirir um saber que antes lhe era interdito.

A princípio reconheceu-se que, mesmo enquanto diferentes sociedades expressassem visões de mundo radicalmente diversas sobre questões fundamentais, todos os povos partilhavam a mesma natureza humana. A partir dessa premissa, surgiu a antítese entre natureza e costume, tradição e lei. O costume podia ser visto como instrumento artificial para restringir a liberdade natural, ou como restrição benéfica e civilizada sobre a anarquia natural. Ambas as visões foram representadas entre os sofistas, embora a primeira prevalecesse. A sofística propôs, então, uma "humanização" da cultura, na qual o estudo de ciências teóricas e práticas estivesse encaminhado para a busca da virtude, entendida como adequação à ordem social.

O relativismo do pensamento sofista, no entanto, impediu uma formulação universal do que fosse a virtude. Essa limitação conduziu pouco a pouco os sofistas a privilegiarem o ensino da dialética e da retórica não mais como formas de descobrir a verdade, mas como forma de fazer prevalecer a argumentação própria em detrimento da contrária ou, em outras palavras, de triunfar na vida política e social.

Esse interesse pragmático foi comum entre os pensadores da primeira geração de sofistas: Protágoras, Górgias, Pródico e Hípias. Entre eles, destacam-se a rejeição à tradição, a relatividade dos critérios morais e epistemológicos, como por exemplo a negação da existência de verdades absolutas, e a ênfase nos problemas da vida cotidiana. A Protágoras, por exemplo, deve-se a célebre máxima "o homem é a medida de todas as coisas". Em parte por obra de Górgias, mas principalmente dos sofistas da segunda geração, como Cálicles, Trasímaco e Crítias, a sofística evoluiu rumo à "erística", puro exercício retórico de persuasão.

O caráter pejorativo que posteriormente adquiriu o termo sofista deve-se sobretudo às severas críticas que Sócrates, Platão e Aristóteles formularam contra o movimento. Aristóteles definiu a sofística como a "arte da sabedoria aparente" e acusou os sofistas de serem simples comerciantes do saber. No século XIX, Hegel reconheceu os sofistas como mestres da Grécia e iniciou a revisão crítica de seu pensamento.

Estudiosos posteriores assinalaram que Platão e seu mestre Sócrates -- contemporâneo e grande adversário dos sofistas -- embora ressaltassem o caráter artificial da retórica persuasiva, atacavam basicamente as teses relativistas da sofística inicial. Outros concluíram que o pensamento de Sócrates e Platão não teria sido possível sem o precedente dos sofistas.

 Platão


Autor de vasta obra filosófica, Platão preocupou-se com o conhecimento das verdades essenciais que determinam a realidade e, a partir disso, estabeleceu os princípios éticos que devem nortear o mundo social. Seu pensamento foi absorvido pelo cristianismo primitivo e, junto com seu mestre Sócrates e o discípulo Aristóteles, lançou os alicerces sobre os quais se assentaria as bases de toda a filosofia ocidental. *Platão nasceu em Atenas por volta do ano 428 a.C. Parece ter iniciado seus estudos filosóficos com o sofista Crátilo, discípulo de Heráclito. Aos 18 anos conheceu Sócrates, que foi seu mestre até ser condenado à morte em 399 a.C. Platão partiu, então, para Mégara, ao encontro de outro discípulo de Sócrates, Euclides. De volta a Atenas, iniciou seus ensinamentos filosóficos. A convite de Dionísio o Velho, foi a Siracusa, no sul da Itália, onde se relacionou com os pitagóricos. Suas doutrinas irritaram o tirano que, ao que parece, mandou vendê-lo como escravo no mercado de Egina, de onde foi resgatado por um cirenaico. *Novamente em Atenas, fundou a Academia -- escola destinada à investigação filosófica -- e dirigiu-a pelo resto da vida. A convite de Dionísio o Jovem, sucessor do tirano de Siracusa, empreendeu uma segunda viagem à Sicília com o objetivo de pôr em prática suas idéias de reforma política, mas retornou a Atenas quando seu protetor caiu em desgraça. Sua terceira viagem ao sul da Itália, a convite do mesmo Dionísio, culminou em fuga, por estar implicado nas lutas políticas do estado. Após essa viagem, Platão permaneceu em Atenas até a morte. *Obra. A obra de Platão foi escrita na forma de diálogos, com exceção da Apologia de Sócrates. Um dos sinais do prestígio do filósofo é o fato de seus textos terem sido conservados na totalidade. Entretanto, foram-lhe atribuídos diversos escritos que hoje são considerados espúrios. Conquanto não exista unanimidade total entre os especialistas, o emprego de critérios estilísticos e conceituais -- em particular os referentes à evolução do pensamento platônico -- permitiu estabelecer, em linhas gerais, uma ordenação de seu trabalho na seguinte ordem cronológica: *(1) Diálogos socráticos ou de juventude, nos quais a figura e a doutrina de Sócrates ocupam lugar de destaque: Apologia de Sócrates, Protágoras, Trasímaco, Críton, Íon, Laques, Lísis, Cármide, Eutífron e os dois Hípias, embora a autenticidade do Hípias maior seja discutida por alguns autores. *(2) Diálogos construtivos ou da maturidade: Górgias, Ménon, Eutidemo, Crátilo, Menéxeno (nem sempre aceito), O banquete, A república, Fédon e Fedro. Nos quatro últimos, a teoria das idéias aparece exposta em sua forma mais característica. *(3) Diálogos tardios, grupo que, iniciado com Teeteto, inclui os escritos elaborados durante a velhice de Platão e nos quais ele faz a revisão crítica da teoria das idéias: Parmênides, Sofista, Filebo, Político, Timeu, Crítias e as leis. *Além dos textos, há uma série de cartas, das quais duas são tidas como autênticas. *Doutrina. A filosofia de Platão recebeu inúmeras interpretações não só devido a sua complexidade, mas por apresentar diversas etapas, em especial no que se refere à evolução das soluções que deu à teoria das idéias, poetizada e obscurecida pelo uso da linguagem simbólica. No entanto, suas doutrinas centram-se num propósito principal: opor-se ao relativismo dos sofistas, o que implica a suposição de haver conhecimento independente de fatores circunstanciais. Assim, o objetivo platônico era o conhecimento das verdades essenciais que determinam a realidade -- a ciência do universal e do necessário -- para poder estabelecer os princípios éticos que devem nortear a realidade social, em busca da concórdia numa sociedade em crise. Nesse sentido, sua obra pode ser considerada como um conjunto coerente, articulado pelo tema condutor da teoria das idéias. *Teoria das idéias: conhecimento e metafísica. Como primeiro passo para sua metafísica, Platão julgou indispensável elaborar uma teoria do conhecimento. O problema com o qual ele se defrontou foi o problema do ser. Uma vez que os sentidos nos revelam as coisas como múltiplas e mutáveis, ao passo que a inteligência nos revela sua unidade e permanência, procurou uma solução que conciliasse o testemunho dos sentidos e as exigências do conhecimento intelectual. Baseou-se nos conceitos matemáticos e nas noções éticas para demonstrar que a essência real e eterna das coisas existe. Usou como argumento a possibilidade de pensar figuras geométricas puras, que não existem no mundo físico. Da mesma forma, todo homem tem as noções de bem e justiça, por exemplo, que não têm correspondente no mundo sensível. Concluiu pela existência de um mundo de essências imutáveis e perfeitas, as idéias arquetípicas. Estas constituiriam a realidade inteligível -- objeto de conhecimento científico ou epistemológico --, cujas leis o mundo sensível -- objeto de opinião -- reproduziria de forma imperfeita. O homem, por ter corpo e alma, pertenceria simultaneamente a esses dois mundos. *Na hierarquia das idéias, situa-se no topo a idéia do bem, da qual participam as demais. Logo abaixo estão as idéias de beleza, verdade e simetria e, em plano inferior, os valores éticos e os conceitos matemáticos. Além disso, cada classe de ser existente no mundo sensível possui sua forma ideal: homem, cachorro, casa etc. A relação entre os diferentes seres que constituem uma classe e seu arquétipo, por exemplo, entre um homem e a idéia de homem, se explica pelo fato de serem os objetos sensíveis cópias ou imitações da idéia perfeita. *Alma. Segundo Platão, a alma é anterior ao corpo, e antes de aprisionar-se nele, pertenceu ao mundo das idéias. Sua natureza é tripartida: no nível inferior, está a alma sensível, morada dos desejos e das paixões, à qual corresponde a virtude da moderação ou temperança; vem em seguida a alma irascível, que impele à ação e ao valor; sobre elas está a alma racional, que pertence à ordem inteligível e permite ao homem recordar sua existência anterior (teoria da reminiscência) e aceder ao mundo das idéias, mediante o cultivo da filosofia. A alma superior é imortal e retornará à esfera das idéias após a morte do corpo. Tais faculdades ou capacidades da alma se relacionam harmoniosamente por meio da virtude mais importante-- o sentimento de justiça -- e constituem aspectos de uma única e mesma realidade. *Ética e política. A morte de Sócrates e as experiências políticas na Sicília levaram Platão a verificar que não é possível ser justo na cidade injusta e que a realização da filosofia implica não só a educação do homem, mas a reforma da sociedade e do estado. O sentido da filosofia -- o amor da sabedoria -- é o de conduzir o homem do mundo das aparências ao mundo da realidade, ou da contemplação das sombras à visão das idéias, imutáveis e eternas, iluminadas pela idéia suprema do bem. As concepções éticas e políticas de Platão são um prolongamento natural de sua teoria da alma. Uma vez que o homem acede às idéias por meio da razão e que as idéias são presididas pelo bem, o homem sábio será também necessariamente bom. Para isso, contudo, é preciso que a sociedade reproduza a ordem da alma. *A justiça consiste na relação harmônica entre as partes, sob o cuidado da razão. Por isso, Platão sugeriu em A república, obra em que expõe suas idéias políticas, filosóficas, estéticas e jurídicas, um estado composto por três estamentos: (1) os regentes filósofos, sob o predomínio da alma racional; (2) os guerreiros guardiães, defensores do estado e cujos valores residem na alma irascível; (3) e a classe inferior dos produtores, regidos pela alma sensível, controlados mediante a temperança. *Platão foi um dos filósofos mais influentes de todos os tempos. Seu pensamento domina a filosofia cristã antiga e medieval. Os ideais estéticos e humanistas do Renascimento constituíram também uma recuperação do platonismo. Há elementos platônicos também em pensadores modernos, como Leibniz e Hegel. Platão morreu em Atenas, em 348 ou 347 a.C. *Neoplatonismo.

 Parmênides de Eléia

Identificando o real com o racional e fazendo do princípio de identidade a premissa fundamental da razão, Parmênides inaugurou o pensamento metafísico que, sistematizado no platonismo, entende como ilusório o mundo dos sentidos.

Parmênides nasceu em Eléia, na Magna Grécia (sul da Itália), por volta de 515 a.C. É possível que tenha sido discípulo de Xenófanes de Cólofon. Foi talvez legislador em Eléia, onde teria também fundado uma escola semelhante aos institutos pitagóricos, para o ensino da dialética. Sua única obra conhecida é um longo poema filosófico em duas partes e 150 versos, chamado “Da natureza” ou Sobre a verdade, do qual só restam fragmentos.

Assim como outros pensadores pré-socráticos, Parmênides enfrentou uma questão central: a busca de um princípio, ou arkhé, subjacente a todas as coisas, e a determinação de um traço de união entre esse princípio e a realidade do mundo físico, em constante mutação. Para Parmênides, tudo o que existe constitui uma única realidade: o ser, que ele identifica com o pensamento, uma vez que só se pode pensar sobre aquilo que existe. Esse ser é incriado, imóvel, imutável, homogêneo e esférico, ou seja, fechado em si mesmo. Não pode, portanto, mudar; o aparente movimento das coisas não seria senão um engano dos sentidos. Nesse aspecto, Parmênides se opunha radicalmente a Heráclito, filósofo pré-socrático para quem a mudança era o princípio fundamental da realidade. Admirado por Aristóteles e por Platão, que deu seu nome a um dos Diálogos, Parmênides formulou pela primeira vez o princípio de identidade, ou da não-contradição, segundo o qual o ser é e o não-ser não é, base de toda a lógica posterior. Não se conhece a data de sua morte, mas se sabe que aos 65 anos, acompanhado de seu discípulo Zenão, teria ido a Atenas, onde possivelmente conheceu Sócrates ainda moço.

 Heráclito

Os modernos historiadores do pensamento grego costumam tratar Heráclito como o primeiro filósofo a propor uma visão dialética do mundo. No século XIX, Hegel apontou-o como um precursor de suas próprias concepções.


Heráclito nasceu em Éfeso, por volta de 540 a.C. Ridicularizava os cultos e ritos de seu povo e, por ter um estilo de difícil compreensão, foi cognominado "o obscuro". Da obra que lhe é atribuída, restam apenas alguns fragmentos do livro Peri physeos (Da natureza), que se dividiria em três partes: o universo, a política e a teologia.

As histórias da filosofia apresentam Heráclito como um dos pensadores pré-socráticos, de posições opostas às de Parmênides. Se este era o filósofo do ser, Heráclito era o do vir-a-ser, do devir. Para ele, tudo está em contínuo movimento, tudo flui. Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, porque tanto a água como o homem, muda incessantemente. Na interpretação de pensadores do século XX, no entanto, não há efetiva oposição entre Heráclito e Parmênides, já que o primeiro fala do cosmo em mudança incessante, ao passo que o segundo se refere ao ser supracósmico, o princípio supremo subtraído à mudança, que coincide com o logos de Heráclito.

Todas as coisas constituem o um, que, submetido a uma tensão dialética interna, desabrocha por sua vez no múltiplo, que se reduz à unidade. Calor e frio, bem e mal, noite e dia são simultaneamente múltiplos e unos, pois constituem metades indissociáveis de uma mesma realidade. A guerra, entendida como pura dinamicidade, é mãe e rainha de todas as coisas. A oposição entre contrários define-se como a própria força criadora do real.

Segundo o critério e o método filosófico da escola jônica, Heráclito buscava um princípio único, o arkhé, de que todas as coisas foram feitas. Essa substância fundamental, em sua obra, era o fogo, definido como mobilidade e inquietação. O próprio ar transforma-se em outros elementos e estes, em mudanças sucessivas, chegam ao fogo. Tais mudanças, porém, não se fazem ao acaso. A marcha e a ordem dos acontecimentos são guiadas pelo logos, essência racional do Universo, expressa pelo fogo. Do ponto de vista ético, a virtude consiste na subordinação do indivíduo a essa razão universal. O mal, segundo Heráclito, está em que muitos querem viver como se fossem seu próprio logos, isto é, o centro dos acontecimentos. Heráclito morreu em Éfeso por volta de 480 a.C.

 Ceticismo



A verdade não existe; se existisse, seria impossível conhecê-la; e ainda que se pudesse conhecê-la, seria impossível comunicá-la. Essa fórmula resume os princípios do ceticismo e orienta a reflexão sobre os fundamentos e limites do conhecimento.


Ceticismo é uma doutrina filosófica segundo a qual, do ponto de vista teórico, não se pode conhecer a verdade e, do ponto de vista prático, só se chega à felicidade, entendida como ausência de inquietação (ataraxia), pela suspensão de todo juízo. Caracterizado por uma atitude que repele os dogmas, o ceticismo busca demonstrar a inconsistência de qualquer afirmação. A única posição justa é a recusa em assumir qualquer posição. A atitude cética, no entanto, não deve ser interpretada como indiferença: ela representa um esforço ativo por manter no espírito o equilíbrio entre as representações da realidade e as opiniões sobre essas representações.

O fundador do ceticismo antigo foi o filósofo grego Pirro de Élida, no século III a.C. Aceitando a distinção entre o que é verdadeiro por natureza e o que é verdadeiro por convenção, Pirro admite que as coisas existam por si mesmas e que tenham uma natureza, mas não que elas sejam acessíveis ao conhecimento. Não existem, portanto, coisas belas ou feias, boas ou más, verdadeiras ou falsas por natureza, mas somente por convenção ou costume. Nossos juízos sobre a realidade dependem de sensações, que são instáveis e ilusórias. O autêntico sábio, portanto, deve praticar a suspensão do juízo (epokhe), estado de repouso mental em que predomina a insensibilidade (apathia), em que nada se afirma e nada se nega (aphasia), de modo a atingir a felicidade pelo equilíbrio e pela tranqüilidade (ataraksia).

Exemplo de ceticismo antagônico:

No século XIX, o dinamarquês Søren Kierkegaard criticou a teoria do conhecimento de Hegel, amplamente difundida e acatada, argumentando que não se pode conhecer de modo absoluto e sistemático uma realidade que é incompleta e mutável, e que a primeira das verdades é a incerteza. Suas idéias constituíram o fundamento do existencialismo, uma das correntes filosóficas mais importantes do século XX.



[Ninguém experimenta a profundidade de um rio com os dois pés]

 Atomismo



Entre as teorias dos filósofos gregos sobre a composição da matéria, o atomismo foi aquela cujas intuições mais se aproximaram das modernas concepções científicas. *Atomismo, no sentido lato, é qualquer doutrina que explique fenômenos complexos em termos de partículas indivisíveis. Enquanto as chamadas teorias holísticas explicam as partes em relação ao todo, o atomismo se apresenta como uma teoria analítica, pois considera as formas observáveis na natureza como um agregado de entidades menores. Os objetos e relações do mundo real diferem, pois, dos objetos do mundo que conhecemos com os nossos sentidos. *Atomismo clássico. A teoria atomista foi desenvolvida no século V a.C. por Leucipo de Mileto e seu discípulo Demócrito de Abdera. Com extraordinária simplicidade e rigor, Demócrito conciliou as constantes mudanças postuladas por Heráclito com a unidade e imutabilidade do ser propostas por Parmênides. *Segundo Demócrito, “o todo”, a realidade, se compõe não só de partículas indivisíveis ou "átomos" de natureza idêntica, respeitando nisso o ente de Parmênides em sua unidade, mas também de vácuo, tese que entra em aberta contradição com a ontologia parmenídea. *E assim, deram origem ao movimento, o que justifica o pensamento de Heráclito. Os átomos por si só apresentam as propriedades de tamanho, forma, impenetrabilidade e movimento, dando lugar, por meio de choques entre si, a corpos visíveis. Além disso, ao contrário dos corpos macroscópicos, os átomos não podem interpenetrar-se nem dividir-se, sendo as mudanças observadas em certos fenômenos químicos e físicos atribuídas pelos atomistas gregos a associações e dissociações de átomos. Nesse sentido, o sabor salgado dos alimentos era explicado pela disposição irregular de átomos grandes e pontiagudos. *Filosoficamente, o atomismo de Demócrito pode ser considerado como o ápice da filosofia da natureza desenvolvida pelos pensadores jônios. O filósofo ateniense Epicuro, criador do epicurismo, entre os séculos IV e III a.C. e o poeta romano Lucrécio, dois séculos depois, enriqueceram o atomismo de Leucipo e Demócrito, atribuindo aos átomos à propriedade do peso e postulando sua divisão em "partes mínimas". *A doutrina atomista teve pouca repercussão na Idade Média, devido à predominância das idéias de Platão e Aristóteles. No século XVII, porém, essa doutrina foi recuperada por diversos autores, como o francês Pierre Gassendi, em sua interpretação mecanicista da realidade física, e pelo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz, que lhe deu um sentido mais metafísico em sua obra Monadologia. Também os ingleses Robert Boyle e Isaac Newton aceitaram algumas idéias da doutrina atomística, ao sustentarem que as variações macroscópicas se deviam a mudanças ocorridas na escala submacroscópica. No século XX, com base no modelo da teoria atômica, o inglês Bertrand Russell postulou o chamado "atomismo lógico", em que transpôs para a lógica os conceitos analíticos subjacentes ao atomismo clássico. *Atomismo e teoria atômica. Ao comparar-se o atomismo grego com a ciência atual, é necessário destacar que a primeira dada à unidade de filosofia e ciência, pretendia tanto solucionar os problemas da mutabilidade e pluralidade na natureza quanto encontrar explicações para fenômenos específicos. Já a moderna teoria atômica tem seu interesse centrado na relação entre as propriedades dos átomos e o comportamento exibido por eles nos diversos fenômenos em que estão envolvidos. Através do controle das reações nucleares, alcançou-se um novo nível, no qual os átomos são descritos como constituídos por partículas elementares, as quais podem transformar-se em energia e esta, por sua vez, em partículas.




quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Anaxágoras




Além de ter elaborado teorias de indiscutível profundidade, Anaxágoras exerceu notável influência sobre a filosofia grega posterior a ele, tendo introduzido em Atenas as concepções desenvolvidas pelos pensadores das colônias helênicas.

Nascido em Clazômenas por volta do ano 500 a.C., na juventude Anaxágoras foi para a capital da Ática, onde logo se tornou a figura principal do grupo de intelectuais reunidos em torno de Péricles, governante da cidade. Sua obra, cuja interpretação, em parte por causa da escassez de fragmentos, é muito controvertida, pode ser situada na confluência entre a tradição milésia e o pensamento de Parmênides. Com os filósofos de Mileto, sustentava que a experiência sensorial põe o ser humano em contato com uma realidade cambiante, cuja constituição última ele pretendia encontrar. Com Parmênides, afirmava que só o ser é e o não-ser não é, porque ao ser, enquanto totalidade, não se pode acrescentar nem tirar nada.

Considerava, em conseqüência, que "nada vem à existência nem é destruído, tudo é resultado da mistura e da divisão". A cambiante pluralidade do real é simplesmente o produto de ordenações e reordenações sucessivas, já não dos quatro elementos tradicionais -- água, terra, fogo e ar --, mas sim de "sementes", ou

"homeomerias", das quais há tantos tipos quantas classes de coisas existem. Nada pode chegar a ser aquilo que não é ou deixar de ser o que é: "como poderia chegar a ser carne aquilo que não é carne ou pêlo aquilo que não é pêlo?".

Anaxágoras, contudo, defendeu também a idéia de que, junto à matéria, existe um princípio ordenador, um nous ou "inteligência", como causa do movimento. Por isso foi chamado de o primeiro dualista. Platão saudou com entusiasmo essa inovação, mas criticou o filósofo de Clazômenas por fazer uso insuficiente dela. Segundo interpretava Platão, Anaxágoras recorria a essa tese apenas para explicar a origem do movimento no universo, produzido esse movimento, o universo ficava abandonado a forças mecânicas. Não é claro que as coisas se passassem assim, nem se o nous era concebido como algo plenamente imaterial ou se, ao contrário, tinha certa materialidade, mesmo que sutil. De fato, as opiniões científicas de Anaxágoras, que se chocou com as concepções religiosas da época, lhe custaram ser julgado por ateísmo. Graças à ajuda de Péricles, conseguiu refugiar-se em Lâmpsaco, onde morreu por volta de 428 a.C.



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